segunda-feira, 28 de março de 2011

Noite (realmente) adentro e amanhecer...

Estou trabalhando no infindo turno que me sinto um morcego ou coruja, ou melhor, imitação de algum desses agourentos seres noturnos. Os minutos se arrastam fazendo pequenas incisões em todo meu corpo, tirando dali qualquer coisa que não seja sangue - energia minha mesmo. E com isso o esvair de horas é ainda mais lento. Mas, essa noite não foi tão horrível assim esse desmembramento. A noite estava elétrica. Raios, relâmpagos e pesadas nuvens negras (dava pra vê-las se aproximarem e tomar conta de todo o negro firmamento) rolavam numa comunicação tempestiva. Eu já podia ver as grossas e gélidas gotas de chuva que viriam desse acasalamento espacial. Esperei e esperei, sentindo-me um morcego (claro que não o próprio Batman) andando e andando, trabalhando e trabalhando até que os primeiros sinais da chuva chegara: gotas de início espessas, mas logo foram se esparsando e então, de repente - paft! - caiu a chuva. Mas (chuva, oh, chuva minha!), durou por pouco tempo, logo virou garoa e logo passou... e então, o amanhecer veio quase a seguir.
Às vezes fico perplexo com o poder que essas coisas têm sobre mim. Como qualquer bom morcego (mesmo eu detestando ficar acordado a madrugada toda) eu adoro a noite, mas... o amanhecer, às vezes, é mais mágico que a noite em si. E o que vi foi realmente mágica. O céu estava nublado, nuvens plúmbeas e pesadas compartilhavam a companhia de alvas nuvens de algodão. Estava fresco, ao contrário da calorente a atípica noite de outono. O sol demorou um pouco para se mostrar, mas quando veio foi realmente um espetáculo. Era como se todas as fadinhas pudessem estar cantando em uníssono naquele instante e assim refazendo a vida do sol. Foi incrível. Sei que parece estupidez, mas relamente o amanhecer de hoje foi incrível e belo como um amanhecer primaveril.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Hi Lili, Hi Lili, Hi Lou

Eu tenho algumas recordações da infância que acredito serem interessantes, é claro que devem ser interessante somente para mim. Recordações de quando eu tinha 12 ou talvez 13 anos e cursava o ginásio (hoje, ensino fundamental). Aprendi uma música naquela ópca que ecoa em minha mente e, às vezes, eu me apanho cantarolando-a baixinho. Se não estou enganado essa canção se chama "Hi Lili, Hi Lou". Aprendi-a com a professora de Educação Artística (nem sei hoje em dia se as crianças têm essa matéria ainda). É uma cançãozinha interessante e que tem uma fórmula bem simples, mas que funciona, às vezes canto-a quando me sinto triste - então com voz um pouco mais alta e deixando o som de cada palavra ir aos meus ouvidos e atingir algum ponto bem lá dentro, no meu cérebro, onde possa restaurar qualquer coisa.

Eis a canção:


"Um passarinho me ensinou uma canção feliz
que quando solitário estou
mais triste do que triste sou,
recordo o que ele me ensinou
nessa canção que diz:

'Eu vivo a vida cantando
Hi Lili, Hi Lili, Hi Lou
por isso que sempre contente estou
o que passou, passou.
O mundo gira em voltas
e nessas voltas eu vou,
cantando a canção que sempre diz:
Hi Lili, Hi Lili, Hi Lou.
Por isso é que sempre contente estou,
Hi Lili, Hi Lili, Hi Lou.' "

domingo, 20 de março de 2011

Robert Frost, Vivaldi e o Inverno

 O Outono... Ah!, já começou! Já dá pra sentir no ar as garras gélidas dos dias de sol triste e frio e de noites geladas, assombrosamente frias e sem vida. Bem, não sem vida. Existe uma vida diferente nas noites invernais, ou outonais. O Verão chega ao fim, o início do frio está aí. Bem... o Inverno! Não dá pra pensá-lo, imaginá-lo, como um inimigo mortal que está nos mostra como somo frágeis sob seus cuidados embora ele o seja. E é então que me recordo dum poema que tive contato a primeira vez em 1999 ou 2000, de Robert Frost, o "Stopping By Woods on a Snowy Evening" (algo como Parando no Bosque num Anoitecer Nevoso). Acho esse poema lindo, fantástico mesmo e quando declamado, quando cada palavra sai da boca faz com que o som não seja simplesmente de palavras vazias ao vento. Não. Acredito que esse poema é um tipo de ode ao Sr. Inverno (ou Mr. Winter, em Inglês).

 
Stopping By Woods on a Snowy Evening

Whose woods these are I think I know.
His house is in the village though;
He will not see me stopping here
To watch his woods fill up with snow.

My little horse must think it queer
To stop without a farmhouse near
Between the woods and frozen lake
The darkest evening of the year.

He gives his harness bells a shake
To ask if there is some mistake.
The only other sound's the sweep
Of easy wind and downy flake.

The woods are lovely, dark and deep.
But I have promises to keep,
And miles to go before I sleep,
And miles to go before I sleep.



A tradução é algo como:

Parando no Bosque num Anoitecer Nevoso

De quem é esse bosque, acho que sei
No entanto sua casa é no vilarejo;
E ele não me verá parando aqui
Pra assistir seu bosque se encher de neve.

Meu cavalinho deve achar estranho
Parar sem nenhuma casa de estrebaria por perto
Entre os bosques e o lago congelado
Na noite mais escura do ano.

Ele dá um chacoalho no seus arreios
A perguntar se há algum engano
O único outro som é o varrer
Do vento leve e neve macia.

O Bosque é amável, escuro e profundo.
Mas eu tenho promessas a manter
E milhas a percorrer antes de dormir
E milhas a percorrer antes de dormir.

Essa tradução é livre, feita por mim totalmente despreocupada com a rima, só pra dar a possibilidade a quem ler esse post e não souber Inglês, de poder imaginar como é simples e profunda essa sensação de noitinha fria de Inverno. Escrevi isso ouvindo "L'inverno" (em português, O Inverno) da "Le quattro stagioni" (conhecidos em português como As Quatro Estações), de Vivaldi, o que fez sentir-me totalmente invernal. Acredito que haja alegria nesse concerto de Vivaldi. Contudo, quando ele adentra "L'autunno" fica tangível o crepúsculo do Verão e o nascer da estrela escura do Inverno. O ar muda, e a própria tenacidade da música também. Os acordes são mais firmes e no próprio Outono existe um toque maior que no Inverno, um toque de desespero de solidão, o início, o nascimento, a ressurreição, do distanciamento da vida normal e corriqueira do Verão, e então, surge aquele ser semi vivo que grita nas noites com seus ventos frios nada similar aos ventos frescos e perfumados da primavera), úmidos duma chuva que parece nunca cair, mas quando cai enregela tudo ao redor ainda mais. Vivaldi foi sábio e duma maestria incrível ao criar esse concerto, e conseguir incurtir naqueles sons cada sensação de cada Estação.